Efeitos especiais do coração, assim o cineasta romeno Radu Mihaileanu define os efeitos especiais que considera mais interessantes e relevantes em um filme. Ele não tem nada contra os efeitos especiais eletrônicos que invadiram o cinema, principalmente o americano, mas chama atenção para aquilo que deveria ser o mais importante: uma história a ser contada, somente ela possui a capacidade de invadir os sentimentos de uma pessoa e levá-la ao riso ou às lágrimas. Ao prazer erótico ou outro qualquer, à reflexão, raiva, arrependimento, introversão ou extroversão, paz ou caos. O efeito especial mais importante de um filme é o afetivo, é sua capacidade de atingir alguém direto no coração. A capacidade de emocionar alguém através de um tema qualquer é que torna especial uma estória.
E isso não tem nada a ver com fazer uma defesa do melodrama, como opção para se opor à estética da ação, típica dos filmes norte-americanos. Os efeitos especiais eletrônicos por si só acabam cansando, não passam de um conjunto de imagens sem substância. Podemos chamá-la de afetividade, sentimento, subjetividade, essa substância deveria ser o verdadeiro alvo do cinema. Somente um tema, uma estória, uma história, será o elemento capaz de causar um “efeito especial” no público. (imagem acima, cena de O Espelho [Zerkalo], de Andrei Tarkovski, 1975)
Portanto, não são precisos milhões e milhões de dólares para produzir um filme repleto de efeitos especiais. Mihaileanu nos conta que seus filhos viviam para o vídeo game. Atualmente o maior, que está com 14 anos, ao desligar o brinquedo descobriu que os melhores efeitos especiais acontecem na hora que beija sua namorada. A capacidade de incitar vivências são os efeitos especiais mais importantes – eis o que um filme pode compartilhar de fato com a vida real. Muitas e muitas vezes esbarramos com efeitos especiais afetivos: uma rápida cena, um close, uma tomada curta enfatizando a dúvida (ou a felicidade) nas linhas de um rosto, a maneira como uma palavra é dita, a maneira como um personagem se cala, etc.
Os efeitos especiais afetivos são como chaves para abrir portas dentro de nós. Às vezes a chave abre a porta rapidamente, às vezes precisa de muitas e muitas voltas. Outras vezes, a chave é fornecida sem a indicação de qual porta é seu destino, e às vezes a chave abre uma porta e nem percebemos. Por vezes, a chegada de uma chave evidencia o esquecimento em que envolvemos algumas de nossas portas. Muitas vezes a chave chega, não para abrir, mas para fechar uma porta que impede que outras se abram.
As chaves podem abrir também janelas e porões. Tudo vai depender de como uma estória é contada, daí as diferenças entre as várias formas de dramaturgia: americana, hollywoodiana, francesa, alemã, italiana, brasileira, argentina, etc. Às vezes estamos tão acostumados com uma dessas formas que não consideramos as outras como sendo cinema. Claro que, para além desse condicionamento, podemos ter nossos gostos estéticos também. Mas o que importa é que o filme capriche nos efeitos especiais: que venha carregado de chaves de presente.