Robert e Carol Reimer analisaram os filmes feitos na Alemanha, entre 1946 e 1991, que tivessem como objetivo chegar a um acordo com o passado. Especificamente, o passado daquele país ligado ao regime Nazista de Adolf Hitler. A proposta dos Reimer é compreender a dinâmica emocional (e ideológica) envolvida em retratar o Nazismo e a articulação desses produtos (os filmes) ao mercado do entretenimento (1). Primariamente, entretanto, a intenção dos cineastas alemães sempre foi permitir que as platéias de seu país pudessem de alguma forma imaginar como teriam agido naquela época.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, muitos cineastas realizaram filmes que abordando o Terceiro Reich na Alemanha (1933-1945), seus antecedentes e seu legado. A designação Nazi-Retrô sugerida pelos Reimer se refere a esses filmes. Geralmente, são filmes dirigidos por cineastas alemães. Mas existem também no resto do mundo. Como o termo francês moda retrô do qual ele é uma adaptação, Nazi-Retrô carrega uma conotação explicitamente negativa. Os filmes falam sobre um tempo que marcou o inconsciente de uma nação e do qual a Europa ainda não se recuperou. O termo implica exploração e trivialização, com finalidade comercial, do sofrimento causado pelo Fascismo (2). (Imagem acima, Lili Marlene, direção Rainer Werner Fassbinder, 1981)
Além disso, o termo Nazi-Retrô aponta para uma sedução nostálgica do passado para aqueles que o viveram e para aqueles da geração pós-guerra. Ele sugere uma história filmada através de lentes coloridas, que mostra o período não como ele foi, mas como a platéia gostaria de se lembrar dele. Decorre daí dois problemas, Nazi-Retrô remete a um pensamento retrógrado, que na melhor das hipóteses leva a uma complacência à nostalgia e sentimentalismo em relação ao passado. Na pior das hipóteses, pode levar a um revisionismo que higieniza e, portanto, falsifica o passado.
O conceito de Nazi-Retrô, explicam os Reimer, não remete apenas a um pensamento retrógrado, mas também a retrospecto, ao ato de inspecionar o passado. Os cineastas que dirigiram filmes sobre a Alemanha Nazista também podiam ser movidos por um sincero desejo que auxiliar os espectadores a compreender o passado. Eventualmente, os cineastas não estão interessados em olhar para trás apenas com o objetivo de explorar aspectos sensacionalistas da história alemã, mas também desejam desvelar as razões porque essa história aconteceu desta forma.
Nos filmes Nazi-Retrô, o passado é apresentado como um objeto de estudo. O espectador é chamado a refletir e formar um julgamento moral sobre o que as pessoas fizeram, para em seguida internalizar as lições das conseqüências. Os Reimer afirmam que os filmes de baixo orçamento tinham dificuldade de alcançar esse objetivo porque, ao combinar intenções sérias com empreendimento comercial, os filmes criavam uma dualidade que muitas vezes introduzia mensagens e subtextos não desejados.
Alguns exemplos podem ser citados. 1) Quando focalizam a vida de cidadãos comuns e as estratégias que eles usaram para viver durante o Terceiro Reich. 2) Os filmes às vezes sugerem que o cidadão médio estava completamente separado do governo. 3) Quando mostram como os Nazistas vitimaram o mundo, os filmes às vezes mostram a Alemanha também como vítima. 4) Quando recriam a vida do dia-a-dia no Terceiro Reich, criam reminiscências nostálgicas de falsa normalidade. 5) Quando os filmes admitem o Holocausto, eles podem evitar implicar pessoas comuns, focando apenas em altas patentes nazistas, ignorando a violenta tensão anti-semita na Europa Central que apoiou a política anti-semita Nazista. 6) Quando articulam sérias questões históricas com fórmulas do cinema narrativo, os filmes Nazi-Retrô podem desviar a atenção do espectador para questões de natureza trivial, em detrimento das problemáticas mais substanciais (3).
Leia também:
O Cinema e o Passado: O Caso do III Reich (II), (final)
Notas:
Leia também:
O Cinema e o Passado: O Caso do III Reich (II), (final)
Notas:
1. REIMER, Robert & Carol J. Nazi-Retro. How German Narrative Cinema Remembers the Past. New York: Twayne Publishers, 1992.
2. Idem, p. 1.
3. Ibidem, p. 2.