“Eu levo as
mulheres mais
a sério do que
a maioria dos
diretores”
Fassbinder
mulheres mais
a sério do que
a maioria dos
diretores”
Fassbinder
Muitos criticaram Fassbinder por apresentar em seus filmes mulheres fracas e submissas como as que podiam ser encontradas nos “filmes de mulheres” que se popularizaram em Hollywood entre as décadas de 30 e 50 do século 20. Nos filmes de gangster do início de sua carreira pode-se perceber uma misoginia. Também existem os filmes em que a mulher é insultada e maltratada por homens oprimidos. Entretanto, Wallace Steadman Watson discorda e afirma que os primeiros filmes do cineasta mostram um retrato solidário em relação à solidão e opressão das mulheres, da mesma forma que caracterizam a misoginia como uma atitude de homens imperfeitos (1).
Watson mostra que em filmes como As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (Die Bitteren Tränen der Petra von Kant, 1972), Uma Mulher de Negócios (Bremer Freiheit, 1972), Effi Briest (Fontane Effi Briest, 1972-3), Martha (1973), Nora Helmer (1973), Como um Pássaro no Fio (Wie ein Vogel auf dem Draht, 1974), Fear of Fear (Angst vor der Angst, 1975), Mulheres em Nova York (Frauen in New York, 1977) as protagonistas femininas submetem-se passivamente aos constrangimentos impostos por homens dominantes. Já em filmes como Bolwieser (1977), O Casamento de Maria Braun (Die Ehe der Maria Braun, 1978), Lili Marlene (1980), Lola (1981), Veronika Voss (Die Sehnsucht der Veronika Voss, 1981), que investigam a história recente da Alemanha, as mulheres são mais assertivas, ainda que no final a maioria não seja mais bem sucedida em desafiar os costumes patriarcais do que nos filmes citados anteriormente.
Watson chama atenção para os modelos cinematográficos de Fassbinder para além das influências do cinema americano. Mulheres positivas, mas no fim também vítimas, são as personagens de dois filmes que Fassbinder considera os mais importantes que ele já viu. Em Viridiana (1961), de Luis Buñuel, uma mulher rica, ingênua e religiosa é explorada por mendigos cínicos que ela levou para casa com o intuito de ajudá-los. Em Viver a Vida (Vivre as Vie, 1962), de Jean-Luc Godard, uma mulher casada se torna prostituta como forma de atingir um sentido de independência, sendo acidentalmente morta no final do filme – Fassbinder afirmou que assistiu a este filme umas 27 vezes em 1974. (imagens do artigo, respectivamente, O Casamento de Maria Braun, Lola e O Desespero de Veronika Voss)
Nos dois filmes, ainda que as mulheres acabem como vítimas, ambas afirmam a si mesmas em função das limitações de expectativa em que a sociedade tradicionalmente as confinou. Este é justamente o elemento que gerou mais críticas das feministas em relação aos “filmes de mulheres” de Fassbinder: ele é acusado de mostrar mulheres como vítimas que internalizaram sua opressão ao invés de tentar libertar-se. O cineasta não nega, mas afirma que essa interiorização da opressão é o resultado de forças sociais poderosas, e que elas sofrem muito em função disso. Fassbinder acredita inclusive que as mulheres, mesmo quando interiorização sua opressão, são capazes de resistir melhor que os homens. Elas usariam a opressão que sofrem, afirmou o cineasta, como um instrumento de “terrorismo”. Já os homens, completa Fassbinder, são simples e primitivos nessa hora.
“Fassbinder nega vigorosamente a acusação de misoginia que às vezes é levantada contra ele. ‘Eu levo as mulheres mais a sério do que a maioria dos diretores’, ele alega. ‘Para mim as mulheres não estão lá apenas para manter os homens andando’.(...) Diretores que ‘sempre as mostram como maravilhosas, elegantes... não gostam de mulheres, não as levam a sério’, ele disse. Mas ele resiste em ser rotulado de apoiador da liberação das mulheres, conversa que o irrita. ‘O mundo não é um caso de mulheres contra homens, mas de pobres contra ricos, de oprimidos contra opressores. E existem tantos homens reprimidos quanto mulheres reprimidas’. Ele disse que procurou mostrar as mulheres honestamente, reconhecendo que elas ‘se comportam tão indignamente quanto os homens’. Não é ele que deve dizer como elas podem se liberar; cada uma deve decidir isso por si mesma” (2).
Notas:
Leia também:
Berlin Alexanderplatz (I), (II), (final)
As Mulheres de Rainer Werner Fassbinder (III)
Este artigo foi publicado no catálogo da Mostra Filmes Libertam a Cabeça
1. WATSON, Wallace Steadman. Understanding Rainer Werner Fassbinder: Film as Private and Public Art. USA: University of South Carolina Press, 1996. Pp. 132-3.
2. Idem, p. 134.
“Fassbinder nega vigorosamente a acusação de misoginia que às vezes é levantada contra ele. ‘Eu levo as mulheres mais a sério do que a maioria dos diretores’, ele alega. ‘Para mim as mulheres não estão lá apenas para manter os homens andando’.(...) Diretores que ‘sempre as mostram como maravilhosas, elegantes... não gostam de mulheres, não as levam a sério’, ele disse. Mas ele resiste em ser rotulado de apoiador da liberação das mulheres, conversa que o irrita. ‘O mundo não é um caso de mulheres contra homens, mas de pobres contra ricos, de oprimidos contra opressores. E existem tantos homens reprimidos quanto mulheres reprimidas’. Ele disse que procurou mostrar as mulheres honestamente, reconhecendo que elas ‘se comportam tão indignamente quanto os homens’. Não é ele que deve dizer como elas podem se liberar; cada uma deve decidir isso por si mesma” (2).
Notas:
Leia também:
Berlin Alexanderplatz (I), (II), (final)
As Mulheres de Rainer Werner Fassbinder (III)
Este artigo foi publicado no catálogo da Mostra Filmes Libertam a Cabeça
1. WATSON, Wallace Steadman. Understanding Rainer Werner Fassbinder: Film as Private and Public Art. USA: University of South Carolina Press, 1996. Pp. 132-3.
2. Idem, p. 134.