
É com este título jocoso que Yannick Dehée se refere à estrelas do cinema francês como Alain Delon, Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve (imagem acima). Estes seriam os heróis que povoariam as telas de cinema nos anos 70 do século passado, fornecendo modelos de vida para a geração que nasceu no imediato pós-guerra. A característica básica destas três carreiras cinematográficas seria uma ruptura com o conservadorismo das gerações precedentes, mas sem a revolta dos adolescentes de maio de 68. Daí a alcunha de “contestadores integrados” (1).
No começo, Belmondo e Delon apareciam como personagens sem escrúpulos e sem moral. Enquanto Deneuve se apresentava como menina modelo. A partir de certo ponto da carreira, entretanto, os três se bandeiam para o lado da burguesia. Eles se integram ao sistema econômico, mas mantém independência no plano moral. A sua maneira, afirma Dehée, estes heróis populares caminham juntos com a nova sociedade liberal que tenta se estabelecer em meados dos anos 70 na França.
Alain Delon
Alain Delon

“Sua força está em sua solidão,
ele a cultiva com afinco, criando
um vazio em torno de si”
La Solitude de l’acteur Delon
Telerama, 30/06/1973 (2)
Na bilheteria, Belmondo e Delon são vistos como os dois lados da mesma moeda. A imprensa os colocava como rivais. São da mesma geração, heróis de filmes de ação, aplicam as mesmas receitas e foram aprovados pelo público. As escolhas de Delon, afirma Dehée, são menos monolíticas do que as de Belmondo. Mas Delon tinha o mesmo cuidado de Belmondo em controlar sua própria imagem, o que significava muitas vezes interferir no trabalho do diretor dos filmes. (imagem acima, Delon em A Primeira Noites de Tranquilidade)
Como Belmondo, Delon é um herói positivo, esportivo e sedutor, que encarna os valores modernos aos olhos do público da década de 70 do século passado. Entretanto, seus personagens não se confundem. Para Belmondo, a zombaria e a espontaneidade. Para Delon, o mutismo, o orgulho e o caráter objetivo. Homicida inquieto em A Piscina (La Piscine, direção, Jacques Déray, 1969), gangster em Borsalino (direção Jacques Déray, 1970), O Círculo Vermelho (Le Cercle Rouge, direção Jean-Pierre Melville, 1970) Sol Vermelho (Soleil Rouge, direção Terence Young, 1971) e A Viúva (La Veuve Cordec, direção Pierre Granier-Deferre, 1971), Delon marcou presença como fora-da-lei. Se ele amadureceu durante os anos 70, se ele se juntou aos mensageiros da ordem, foi no interior da sociedade civil: juiz em O Crime das Granjas Queimadas (Les Grands Brûlées, direção Jean Chapot, 1973), doutor em Tratamento Diabólico (Traitement de Choc, direção, Alain Jessua, 1972), advogado em Encontros Cruzados (Les Seins de Glace, direção, Georges Lautner, 1972), ele gosta de viver com certos luxos sem perder seu dinamismo (3). Sem esquecer que em Um Amor de Swann (Un Amour de Swann, direção Volker Schlöndorff, 1984), Delon interpreta um homossexual.
Como Belmondo, Delon é um herói positivo, esportivo e sedutor, que encarna os valores modernos aos olhos do público da década de 70 do século passado. Entretanto, seus personagens não se confundem. Para Belmondo, a zombaria e a espontaneidade. Para Delon, o mutismo, o orgulho e o caráter objetivo. Homicida inquieto em A Piscina (La Piscine, direção, Jacques Déray, 1969), gangster em Borsalino (direção Jacques Déray, 1970), O Círculo Vermelho (Le Cercle Rouge, direção Jean-Pierre Melville, 1970) Sol Vermelho (Soleil Rouge, direção Terence Young, 1971) e A Viúva (La Veuve Cordec, direção Pierre Granier-Deferre, 1971), Delon marcou presença como fora-da-lei. Se ele amadureceu durante os anos 70, se ele se juntou aos mensageiros da ordem, foi no interior da sociedade civil: juiz em O Crime das Granjas Queimadas (Les Grands Brûlées, direção Jean Chapot, 1973), doutor em Tratamento Diabólico (Traitement de Choc, direção, Alain Jessua, 1972), advogado em Encontros Cruzados (Les Seins de Glace, direção, Georges Lautner, 1972), ele gosta de viver com certos luxos sem perder seu dinamismo (3). Sem esquecer que em Um Amor de Swann (Un Amour de Swann, direção Volker Schlöndorff, 1984), Delon interpreta um homossexual.




Para inicio de conversa, em A Primeira Noite de Tranqüilidade, Delon interpreta um homem que chora no final do filme. Aparentando estar cansado do mundo, é difícil que alguém diga alguma coisa que o deixe impressionado. Pode-se dizer que Delon representa aqui um homem frio, embora não no sentido cínico da palavra. Divide seu tempo entre tentar não se entediar com o sectarismo político de seus alunos, o jogo de cartas onde consegue dinheiro para pagar suas despesas e uma aluna que passa a cortejar. É um homem desiludido com tudo e com todos que acaba se apaixonando por uma mulher mais jovem apenas para se desiludir novamente no final.
Se, para além dos diretores que o laçaram ao estrelato, como Luchino Visconti ou Jean-Pierre Melville, os filmes de Alain Delon foram um sucesso (muitas vezes apenas por sua presença) é porque ele encarna em estado bruto um fantasma em vôo. Longe da contestação universitária comum na passagem entre as décadas de 60 e 70 do século 20, Delon cristaliza as aspirações de uma certa classe média, mais individualista, à promoção social e aos prazeres materiais (4).
Notas:
1. DEHÉE, Yannick. Mythologies Politiques du Cinéma Français. Des Anées 1960 Aux Anées 2000. Paris: Puf, 2000. P. 127.
2. Idem, p. 132.
3. Ibidem, p. 133.
4. Ibidem, p. 134.