“Belmondo nunca lia
o roteiro. Ele tinha tal jogo
de cintura que teria sido
necessário ser masoquista para não
filmar com ele. Eu não estou muito
certo de que seja um grande ator
(como o foi Mastroianni, o maior
ator do mundo), mas certamente
é uma grande natureza”
Philippe de Broca (1)
Cineasta francês, dirigiu vários
filmes onde Belmondo atuou
Jean-Paul Belmondo
De jovem rebelde da Nouvelle Vague, tornou-se um personagem triunfante e otimista, seguro de seu charme e bem em qualquer situação, como em O Homem do Rio (L’Homme de Rio, direção Philippe De Broca, 1964). Sua carreira explodiu em Acossado (À Bout de Souffle) (imagem acima), em 1960, no primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard. Na opinião de Dehée, entretanto, será em filmes como O Herdeiro (L’Héritier, direção Philippe Labro, 1973) que podemos captar a inflexão política de seu personagem. Belmondo é Bart Cordell, um poderoso industrial.
Se antes seus personagens se vestiam com blusão e jeans, neste filme ele aparece de terno e gravata. Além disso, o gestual e os diálogos também não correspondiam àquilo que ele havia interpretado até então. Até o lançamento do filme, Belmondo não acreditava que seu público gostasse desse personagem. A partir daí, o ator não parou de aceitar papeis de escroques charmosos, como em Stavisky, ou O Império de Alexandre (Stavisky, direção Alain Resnais, 1974) e O Incorrigível (L’Incorrigible, direção Philippe De Broca, 1975). Progressivamente, Belmondo vai migrando para os personagens de justiceiros. Como um oficial da polícia parisiense em Peur sur la Ville (direção Georges Lautner, 1975), ou um policial inconformado com a escalada do crime na cidade francesa de Nice em Flic ou Voyou (direção Henri Verneuil, 1979), ele se identifica agora como a defesa da ordem (2).
Dehée termina sua descrição do fenômeno Jean-Paul Belmondo sugerindo que o ator francês encarnou a ousadia no interior do sistema. Esquecer as regras do mundo francês do pós-guerra, viver prazerosamente, mas inserido na ordem econômica. Seria o herói ideal das classes médias: Belmondo ofereceu ao espectador o arrepio da viagem, da aventura e das cenas perigosas, o prazer das conquistas femininas e da insolência em relação aos patrões. “Ele sintetiza as contradições de sua época” (3).
Se antes seus personagens se vestiam com blusão e jeans, neste filme ele aparece de terno e gravata. Além disso, o gestual e os diálogos também não correspondiam àquilo que ele havia interpretado até então. Até o lançamento do filme, Belmondo não acreditava que seu público gostasse desse personagem. A partir daí, o ator não parou de aceitar papeis de escroques charmosos, como em Stavisky, ou O Império de Alexandre (Stavisky, direção Alain Resnais, 1974) e O Incorrigível (L’Incorrigible, direção Philippe De Broca, 1975). Progressivamente, Belmondo vai migrando para os personagens de justiceiros. Como um oficial da polícia parisiense em Peur sur la Ville (direção Georges Lautner, 1975), ou um policial inconformado com a escalada do crime na cidade francesa de Nice em Flic ou Voyou (direção Henri Verneuil, 1979), ele se identifica agora como a defesa da ordem (2).
Dehée termina sua descrição do fenômeno Jean-Paul Belmondo sugerindo que o ator francês encarnou a ousadia no interior do sistema. Esquecer as regras do mundo francês do pós-guerra, viver prazerosamente, mas inserido na ordem econômica. Seria o herói ideal das classes médias: Belmondo ofereceu ao espectador o arrepio da viagem, da aventura e das cenas perigosas, o prazer das conquistas femininas e da insolência em relação aos patrões. “Ele sintetiza as contradições de sua época” (3).
Notas:
1. “Belmondo ne lisait pas le scénario. Il avait un tel je-m’en-foutisme qu’il aurait fallut être masochiste…” TASSONE, Aldo. Que Reste-t-il de la Nouvelle Vague? Paris: Éditions Stock, 2003. P. 84.
2. DEHÉE, Yannick. Mythologies Politiques du Cinéma Français. Des Anées 1960 Aux Anées 2000. Paris: Puf, 2000. P. 129.
3. Ibidem, p. 131.