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Roberto Acioli de Oliveira

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18 de jul. de 2008

O Corpo Expressionista


“Inventar movimentos
ultrapassando a realidade”

Rudolf Kurtz


Os movimentos do homem (1) expressionista são abruptos e cortantes, bruscos, abortados no meio do caminho. A fenda de sua boca faz lembrar as máscaras africanas. O ator deve inventar movimentos, ultrapassando a realidade. A deformação expressionista dos gestos é uma resposta a deformação dos objetos.

Em O Gabinete do Dr. Caligari (direção Robert Wiener, 1919) (imagem acima), o doutor, juntamente com Cesare, o sonâmbulo que ele controla, atuam como complemento do cenário. O sonâmbulo mata sem motivo ou lógica, enquanto Caligari, sem escrúpulos, que age com uma insensibilidade descontrolada, um desafio à moral corrente, como faziam os expressionistas. Em Le Montreur d’Ombres (direção Arthur Robinson, Schatten - Eine nächtliche Halluzination [?], 1923), um ilusionista faz seu corpo contorcer-se diante dos espelhos, abrindo os braços e projetando o tórax, como que para se livrar deles, cria uma espécie de abstração absoluta.


Dr. Rotwang, o cientista louco de Metrópolis (direção Fritz Lang, 1927) (imagem acima), gesticula aos arrancos, como um boneco de cartolina com pernas e braços articulados e ligados por um barbante que puxamos. Brigitte Helm, a atriz que faz a mocinha do filme, para exprimir a dor e o pavor da verdadeira Maria, faz movimentos bruscos com o corpo, mudanças mecânicas de expressão que a tornam parecida com a falsa Maria (à esquerda), o robô que tomou seu lugar a mando de Rotwang. Os trabalhadores do mundo subterrâneo que se revoltam têm rostos privados de uma expressividade natural, estando deformados por caretas selvagens.




Em O Gabinete das Figuras de Cera (à direita) (direção Leo Birinski, Das Wachsfigurenkabinett, 1924), coberto por um turbante enorme, o corpo inchado de vestimentas, parecido com um imenso pião, Haroun al Rachid rola sua pança num Oriente de segunda mão.

A obsessão pelo desdobramento, vinda do Romantismo, é constante. Alguém vende a própria sombra ao diabo em O Estudante de Praga (Der Student von Prag, direção Paul Wegener, 1913) (abaixo da imagem de Kriemhild, à direita). O pacto assinado com Mefisto permite ao ancião Fausto tornar-se jovem (Fausto; Faust, direção F. W. Murnau, 1926).

A bela e doce Kriemhild de Os Nibelungos – A Vingança de Kriemhild (Die Nubelungen [parte II] – Die Kriemhilds Rache, direção Fritz Lang, 1924) transforma-se num monstro sanguinário. (à direita)

Doutor Mabuse é um assassino que escapa da polícia graças a seus múltiplos rostos (Mabuse, o Jogador; Dr. Mabuse, der Spieler – Ein Bild der Zeit, direção Fritz Lang, 1922). M, O Vampiro de Dusseldorf (M, Fritz Lang, 1931) não consegue dominar seu demônio interior (abaixo). O “eu” é terrificante:

“Que me importa a minha sombra? Corra atrás de mim... e eu adiante dela!”

“Assustei-me tanto a sonhar que acordei!
Não se aproximou de mim uma criança que levava um espelho?
Zaratustra — disse ela — olha-te a este espelho!
Quando, porém, olhei para o espelho, soltei um grito e o coração
deu-me um baque; porque não foi a mim que vi, mas
a carranca sarcástica de um demônio” (2).

É um rosto alucinante, um crânio aberto, que anuncia no Testamento do Dr. Mabuse ( Das Testament der Dr. Mabuse, direção Fritz Lang), a destruição do universo a se aproximar (acima, à esquerda, logo abaixo da falsa Maria, Dr. Mabuse no filme de 1922; abaixo, com o crânio aberto em Testamento...). Estamos em 1933, o expressionismo agoniza: Hitler sobre ao poder na Alemanha, os expoentes da arte expressionista são mandados para campos de concentração. Ou para o exílio, expulsos das escolas de belas artes. Seus livros são queimados em praça pública. Para alimentar o caixa do partido nazista alemão, seus quadros são vendidos. Também foram apresentados ao povo alemão como “arte degenerada”. O “fim do mundo”, previsto há muito tempo pelos poetas expressionistas, está acontecendo.

Notas:

1. Este artigo é uma transcrição resumida de Le Corps Expressionniste In Le Cinéma Expressioniste Allemand. Splendeurs d’Une Collection. Ombres et Lumières Avant la Fin du Monde. Paris: Éditions de La Martinière, 2006. P. 184. Catálogo de Exposição.
2. NIETZSCHE, Friedrich. A Sombra e A Criança do Espelho In Assim Falou Zaratustra, 1884. Respectivamente, 4ª e 2ª partes.

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